sábado, 13 de junho de 2020

Agricultura Urbana em Altamira: Uma potência em benefícios para a cidade

Por: Anderson Serra*
Postado no facebook do autor.


A Agricultura Urbana engloba uma diversidade atividades praticadas dentro ou na periferia dos centros urbanos, podendo ser extrativismo, cultivo, criação, processamento e distribuição de uma variedade de produtos alimentícios e não alimentícios. Normalmente utiliza recursos humanos, materiais, produtos e serviços disponíveis nas cidades em que é praticada.

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Estudo realizado por Fernanda Macieira em 2018, como trabalho de conclusão de sua graduação em Agronomia, empreitada que tive a satisfação de orientar, possibilitou entender melhor o que é visto por todos, conhecido por poucos e negligenciado pelo poder público. Na paisagem urbana de Altamira, considerando tudo o que está dentro da cidade e numa área de até cinco km afora do perímetro urbano, a agricultura urbana (literalmente) dá bons frutos, tendo grande relevância social para os Altamirenses.
Alimentos básicos fundamentais para a segurança alimentar como verduras e legumes, galinha, porco, pato e gado, por serem fonte de proteína e fazerem parte (ou pelo menos deveriam!) da alimentação diária das famílias, é produzido em Altamira dentro e nos arredores de Altamira. Somados ao açaí exprinextda mata (principalmente Infraero) e o peixe fisgado na boca dos igarapés (principalmente panelas) e no rio Xingu, dão conta de uma expressiva diversidade produtiva sobretudo porque também há a fruticultura (goiaba, abacaxi e etc) e até o "manjar dos deuses", como diria o botânico sueco Carolus Linneu, o cacau, produto de grande valor no mercado.
Toda essa produção é o meio de vida de 154 pessoas, entre homens e mulheres e atende em grande parte a forte e crescente demanda do mercado local abastecendo feiras, supermercados ou pela venda direta aos consumidores, sobretudo depois do expressivo aumento de residentes em Altamira nos últimos anos. Em muitas áreas na paisagem urbana, a agricultura urbana reconfigurou-se no decorrer do tempo, cambiada por outros usos do solo tipicamente urbanos (casas, comércio ou ruas), mas manteve-se e até expandiu-se, diante das vantagens que a atividade oferece.
Uma dessas vantagens, é que Altamira em parte está sob solos de muita fertilidade natural, correspondendo as manchas de terra roxa. Outro privilégio da atividade é que pode ser realizada em combinação com outras atividades não agrícola, junto a família e a morada do agricultor urbano, que por meio de relatos afirmaram que depois que passaram a cultivar horta nos quintais, a casa embelezou-se e tornou-se mais agradável, por reproduzir aspectos de um ambiente rural, ainda que no espaço urbano. Também é vantajosa porque é promissora, tanto é que muito dos agricultores realizam significativos investimentos financeiros no aperfeiçoamento da atividade, comprando equipamentos e até terrenos para ampliar a produção.
Contudo, como nem tudo na vida são verduras.... ops... quis dizer, são flores, a agricultura urbana em Altamira é pouco ou quase nada fomentada pelo poder público. Contrariando todas as expectativas de que naturalmente seria uma atividade com forte apoio governamental, tendo em vista os muitos benefícios que a atividade gera, o potencial natural da cidade (mercado e solo), o fato de ser uma atividade que está dentro da cidade, o que facilitaria a execução de ações, mas sobretudo porque os investimentos por família para dinamizar a atividade é relativamente baixo (por exemplo a compra de equipamentos de irrigação - bomba e mangueira, (R$3 mil no máximo), a agricultura urbana de Altamira não recebe a atenção merecida, não só hoje como desde sempre.
Vale registrar que algumas ações governamentais já foram realizadas, como cursos de horticultura e alguns poucos agricultores no tempo pretérito também já chegaram a receber doações de alguns insumos. Porém, tais ações são pouco efetivas porque falham pela descontinuidade, são muito pontuais e envolvem pouca gente, deixando de ativar o potencial da agricultura urbana de Altamira para gerar empregos e segurança alimentar, tão importantes sobretudo no contexto atual.

*Anderson Borges Serra é Doutor em Ciências pela Universidade de Freiburg na Alemanhã, com mestrado em agricultura familiar na UPFA e EMBRAPA em Belém e graduado em Ciências Agrárias pela UFPA em Altamira.