Nos últimos dias 23 a 25 de abril ocorreu a II Jornada dos
Povos Indígenas, evento realizado pela Juventude Universitária Pelas Causas
Indígenas (JUCI) em parceria com os alunos de Jornalismo da Instituição de
Ensino Superior (IES) Estácio FAP em Belém-PA e orientados pela professora Msc.
Viviane Menna Barreto da mesma IES.
No dia de encerramento do evento (25) um discente da
Universidade do Estado do Pará Campus IX Altamira, Jackson Dias, foi um dos
destaques, ele estuda no 5ª período do curso de Engenharia Ambiental; é
presidente do Diretório Acadêmico; diretor de interiorização do D.C.E. UEPA;
vice-presidente da União da Juventude Socialista de Altamira e no ano 2012 teve
5 trabalhos aprovados em eventos científicos municipais, estaduais e nacionais. Por representar a UEPA no evento a PROGESP e a coordenação do campus ajudou o discente com as passagens.
No último dia, além de Jackson Dias, a mesa de palestrantes
era composta pelos Indígenas: Juma Xipaia, moradora da região do Xingu e caloura
do curso de direito da UFPA; Eliene Putira Sacuena, estudante de biomedicina na
UFPA; Ubirajara Sompre, vereador no município de Marabá-PA; Ativistas: Rafael
Correto, Xingu Vivo Para Sempre; Karla Ataíde, Vegetarianos Em Movimento (VEM)
e bacharel em Direito; Maurício Matos, Xingu Vivo Para Sempre e funcionário
Público; Promotora Agrária: Msc. Isabel Blaskovsy; Doutores: Dra. Ana Maria
Magalhães e Dr. em Sustentabilidade Girolamo Treccani.
Com o tema “IMPACTOS OCORRIDOS EM TERRAS INDIGENAS (TIs),
OCASIONADOS POR GRANDES OBRAS NA AMAZONIA, FINANCIADAS PELO BNDES” a
apresentação do estudante e militante, Jackson Dias, foi a mais demorada cerca
de 25 minutos e a abaixo estão os principais pontos que ele falou:
O custo total do AHE
Belo Monte será de R$28,9 Bilhões e o BNDES concederá R$22,5! Por quê?
Porque essa obra é de
grande risco econômico, pois na área de influencia direta e indireta atingirão
11 municípios, 10 terras Indígenas, dezenas de propriedades rurais além da
biota da região. Pela magnitude desses impactos as empresas que elaboraram o
EIA/RIMA do AHE Belo Monte desistiram de entrar no leilão, e várias outras empresas
privadas também, então fora formado o grupo Norte Energia que é composto por: Eletrobrás,
Chesf, Eletronorte, Petros, Funcef, Grupo Neoenergia, Cemig, Light, J. Malucelli
Energia, Vale e Sinobras. E com o leilão que durou 7 minutos esse grupo arrematou
a obra e a norte energia contratou o serviço do Consórcio Construtor de Belo
Monte (CCBM) grupo composto por várias empresas privadas inclusive as
empreiteiras que realizaram o EIA/RIMA de Belo Monte.
Quais as Terras
Indígenas (TIs) que serão mais afetadas?
Será a TI Paquiçamba,
TI Arara da volta grande do Xingu e a TI Juruna do Km 17. As duas primeiras
sofrerão com a vazão reduzida da “Volta Grande do Xingu”, este é um trecho de
100 km que o rio perderá grande parte das aguas por causa do lago de 516 km²,
essas TIs sofrerão principalmente no período do verão, onde será dificultada a
navegação e a alimentação, pois os índios sobrevivem, sobretudo se alimentando dos
peixes, que por sua vez sofrerão com a falta de vegetais para se alimentarem,
haja vista as florestas aluviais e vegetação dos pedrais sofrerem diretamente
pela falta de sazonalidade dos águas do Xingu nesse período. Segundo o IBAMA a Norte
Energia deverá liberar a água do lago no período do verão para que os indígenas
tenham um mínimo de condições para sobreviverem, entretanto, se isso acontecer
a Hidrelétrica poderá ficar sem produzir energia durante esse período, o que
significaria um fracasso do empreendimento em termos financeiros, portanto, explica
porque é o governo federal que está bancando 77,85% dessa obra. A TI Jurunas do
Km 17 está sendo afetada, pois ela está as margens da BR 230 (rodovia
Transamazônica) e da PA 415 e desde o inicio da obra o movimento nessas
estradas aumentou de forma significante e isso causa transtornos audiovisuais,
além do perigo de acidentes no trânsito contra a vida dos índios.
Belo Monte Versus TI
Arara da Volta Grande Versus Belo Sun.
A volta Grande do
Xingu, que sofrerá com a vazão reduzida num trecho de 100 km, será alvo da
extração de ouro por uma grande mineradora. Na década de 70 algumas áreas foram
invadidas e transformadas em garimpos clandestinos, durante vários anos houve
conflitos entre garimpeiros e indígenas nas regiões que são atualmente o
garimpo do galo, ouro verde e vila da Ressaca, com a abertura desses garimpos
ocorreu além da violência contra os índios existe a contaminação dos índios por
doenças, prostituição e alcoolismo, fatores que transformaram a realidade
social desses grupos indígenas e que agora vários descendentes deles já
trabalham nesses garimpos. As áreas de garimpos clandestinos são hostis, pois
os trabalhadores geralmente são em maioria analfabetos e cresceram em famílias
desestruturadas, por esses fatores os garimpeiros acabam gastando o dinheiro,
que adquirem da extração do ouro, com prostitutas e bebidas alcoólicas e por
isso não conseguem sair desses locais para terem uma vida mais saudável, poucos
são os garimpeiros que conseguem construir um patrimônio sólido.
Em março de 2012 foi
publicado o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para a extração de ouro nessa
mesma região e a empresa responsável será a Belo Sun Mineração Ltda, que é uma
subsidiária brasileira da Belo Sun Mining Corporation pertencente ao grupo
Forbes & Manhattan Inc., um banco mercantil de capital privado que
desenvolve projetos de mineração em todo o mundo. A área de extração será a
mesma dos garimpos que já estão alojados na região, a previsão da empresa é que
serão criados cerca de 2100 empregos direta e indiretamente e a será extraído
50 toneladas de ouros nos anos de funcionamento do empreendimento, em valores
atuais a Belo Sun faturará cerca de US$ 2,8 BILHÕES e segundo o RIMA ela
investirá “apenas” US$ 380.077.000,00, ou seja, haverá um superávit de sete
vezes mais.
A TI Arara da Volta
grande já sofrerá diretamente por causa da construção da terceira maior
Hidrelétrica do Mundo, e atualmente com a futura extração de ouro por uma
multinacional perto de suas áreas, além da falta de alimentos e de
navegabilidade, agora eles poderão sofrer exaustivamente com o alcoolismo,
prostituição, doenças, perca de sua cultura, invasão de suas terras e
principalmente sua identidade que eles conseguiram manter através de centenas
de anos justamente através das cachoeiras da volta grande que não deixaram os
holandeses e jesuítas chegarem a região no século XVII!
Se você tivesse um
lugar só seu, onde você não precisasse de mais nada, só cultivar, se alimentar,
realizar cerimonias, dormir, vivendo em perfeita harmonia e saúde com sua
mulher ou homem e seus filhos e que nesse mesmo lugar estivesse enterrado os
corpos de seus parentes, pais ou filhos ou os dois, por exemplo, e alguém
invadir seu local sagrado levando doenças, vícios e te transformassem em
escravo da sua própria terra?
A II Jornada dos Povos Indígenas
foi um momento importante para os Universitários, pois eles puderam conhecer a
realidade de como os índios são tratados, uma vez que até hoje eles são
colonizados, pois estão entregando as terras e o nicho ecológico deles para os
“brancos” novamente, então é chegado o momento que a Juventude comece a ocupar
esses espaços de debate e possa construir um Brasil que tenha orgulho de seus
povos tradicionais e uma Juventude consciente que podemos sim transformar nosso
país em um Modelo de Desenvolvimento SUSTENTÁVEL e chegaremos a isso se diminuir
o consumo de automóveis e investir em transporte público; em acabar com
Hidrelétricas e investir em energia solar, que é mais barato se colocar na
conta das hidrelétricas os impactos sócio-culturais; reformar as linhas de
transmissões das hidrelétricas que o país já possui...!
BIBLIOGRAFIA
2: RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL
(RIMA). Aproveitamento Hidrelétrico Belo
Monte, 2009.
3: RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL
(RIMA). Projeto Volta Grande, 2012.
Fotos do evento:
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